A cada novo dia o homem contemporâneo sente-se esmagado pelas pressões que a vida moderna exerce sobre sua subjetividade. Uma era demarcada pela ascensão da tecnologia e da ciência, berço de inúmeras transformações nos valores sociais e individuais, um mundo globalizado de desigualdades, de intolerâncias religiosas, de crescente violência e intermináveis confrontos éticos e políticos.
Trata-se de um período que possui como premissa o consumo, sendo esse a mola propulsora das condutas da atualidade. Velozmente, busca-se de maneira incessante e desenfreada ser consumidor dos novos produtos, das novas ideias, dos novos valores, do que for novo e do que ainda nem chegou às prateleiras. O homem contemporâneo é o homem em tempo real, o homem do tempo de agora, um homem que modifica e é modificado pela modernidade.
As inúmeras possibilidades e outras tantas facilidades do hoje afastam o homem contemporâneo de seu eixo e de seu centro, pois o conduzem a um sistema voltado ao imediatismo, que seja rápido e instantâneo. Vive-se um grande paradoxo: por um lado o ápice da tecnologia que nos inunda com alternativas para o dia a dia, ao passo que, por outro lado, não conseguimos dar conta de tantas necessidades, concebidas por nós mesmos, e, assim, nos colocamos em sofrimento. No entanto, está carimbado que sofrer não é permitido, que precisa ser evitado a qualquer custo, que imagem é tudo, pois tudo é movimento, tudo é alegria e felicidade, quando ter parece estar na frente de ser.
Tal forma de viver tem evocado novos modos de adoecimento, novas fugas, crescentes relatos de um vazio existencial sem fim, sentimentos de grande angústia, falta de sentido para a vida. Logo, deparamo-nos com pessoas entediadas, fragilizadas, entristecidas, solitárias e inseguras. Diante desse contexto, pergunto: que lugar, nós, os psicólogos ocupamos na contemporaneidade?
Reflito e, sem dúvida, acredito que os psicólogos ocupam um lugar que acolhe todo e qualquer sofrimento constituinte da existência humana. Considerando esse sentimento um momento do sujeito, com significações e sentidos diferentes a cada um e conforme seu modo de ser e viver.
Esse é um lugar em que se busca ouvir o que está sendo dito e escutar o que não está sendo manifestado em palavras É permitir no exercício dessa profissão a criação de um espaço para que as singularidades ressurjam. Ainda, é voltar-se para os caminhos traçados pelos desejos e quereres do sujeito, pensar a história vivida com o olhar da pluralidade, da diversidade e da complexidade que constitui a natureza humana. Lugar pautado na ética e não somente na técnica, que tem por objeto de estudo a subjetividade, ou seja, aquilo que pode ser cuidado enquanto vivência singular e reveladora de sentido.
Definitivamente, ocupamos um lugar de encontro, de reencontro do homem do tempo de agora com a sua história, com suas dores e sofrimentos, suas inseguranças e suas angústias, um reencontro consigo. Por fim, em meio a tanta instantaneidade, trago um desafio para reflexão: você já parou para escutar o que você mesmo tem a dizer, aquilo que lhe faltam palavras para expressar?
Fonte: Lisiane Rebeschini Via Piana – psicóloga CRP 07/21754 – Telefone: (54) 98129-8989